segunda-feira, dezembro 26, 2005

Natal de pernas para o ar

Quem me conhece, automaticamente diz: "Tem condição financeira. E mesmo que não tenha, os pais têm dinheiro, não há problema." - Enganam-se.
Ora reparem na hipocrisia deste Natal com alguma antecedência:
Pai (o meu): O menino precisa de alguma coisa? Vê lá que nós compramos!
Eu: Precisa de um marsupial, de um ninho...
Pai: Ah, eu ofereço! Custa por volta de 40eur o marsupial não é? Eu compro!
Entretanto o tempo passa e eu necessito do marsupial.
Eu: Pai, preciso do marsupial para 2ª feira. O R. não está cá e vou com o bebé ao Centro de Saúde.
Pai: Ah, nós depois vemos isso, logo se vê!
Eu: Vou comprar o marsupial. É para a-m-a-n-h-ã que preciso do marsupial e até agora não o compraste nem me chamaste para ver de algum. Depois se quiseres "comparticipar" no valor ou pagá-lo, avisa.
Pai: Ah, aqui a P. (cabeleireira ao lado da imobiliária da minha madrasta) tem um marsupial para te emprestar, era do filho dela (o filho tem 10 - DEZ - anos)...
Eu: Aaaaahhhh! Então era esse o marsupial que ias comprar ao teu neto? Algo em 2ª mão com dez anos em cima? Achas que isso tem segurança?! Deixa que eu compro algo em condições para o bebé.

E aqui está uma, outra:
Pai: O menino precisa de alguma coisa? Diz lá que a gente compra!
Eu: Precisa de uma espreguiçadeira, do quarto, da cadeira de refeição...
Pai: E roupa, não?
Eu: ... Não pai, ele até já tem roupa que vocês compram enormes que não vai usar. Ele não tem falta de roupa.
Pai: Olha! Compraste o ninho! Andámos a ver disso para o bebé!
Eu: Ver e comprar são coisas diferentes pai. Lá por vocês verem um ninho, não o vestem automaticamente por isso.
Pai: Tu nunca dizes o que faz falta ao bebé!
Eu: ...
E continua:
Pai: Faz falta alguma coisa ao menino?
Eu: ... Porque queres saber? Para saberes o que evitar comprar e entafulhar o miúdo em roupa desnecessária?!
Pai: Vá, diz lá o que faz falta ao menino.
Eu: Uma espreguiçadeira, a cadeira de refeição, brinquedos, o quarto...
Pai: Hmmm, espera pelo Natal! No Natal logo se vê!
(E pouco antes de chegar o Natal...)
Pai: Olha! Comprámos uma prenda linda para o meu (?!) menino! Mas não digo o que é! Mas é tão bonito!
(Eu nem respondo e ponho-me a rir. Deixo o meu pai sair e comento com o R.)
Eu: Bem, o meu pai no outro dia ligou-me a dizer que estava numa ouriversaria... porque será que tenho a impressão que o miúdo vai receber uma pulseira super larga? Sem contar que não gosto de ver bebés com pulseiras e anéis, mas pronto...
R.: Achas?! (e ri-se)
Eu: Acho pois! E queres apostar que a prenda "linda e bonita" que o meu pai falou é mais uma peça de roupa para daqui a 6 meses, que não serve ao miúdo e que quando servir já vai ser Verão, logo ele nunca vai utilizar?
R.: Olha que se calhar não é isso... (ri-se novamente)
Eu: Vamos ver!

Resultado? As prendas do Diogo da parte dos meus pais foram...:
1 pulseira de ouro (lol...)
1 fato de inverno muito quente para... 6 meses! (LOL... lembro que o Diogo faz 6 meses em M-a-r-ç-o)
Tcharãmm!!!!!
Podem estar a achar-me mal agradecida, ou pretenciosa, mas tendo em conta que eu estou desempregada e o R. não recebe assim tanto, tendo em conta que não temos forma de gastar dinheiro em cadeiras de refeições e quartos e espreguiçadeiras (o quarto já o comprei, que remédio, a renda de Janeiro logo se vê...), quando supostamente alguém vive bem, me pergunta o que faz falta ao bebé e tudo o que faz é comprar coisas desnecessárias na tentativa de mostrar aos outros algo do género: "Oh para o meu neto! Tão bonito com o fatinho que EU dei e com uma pulseira linda que EU dei!" - fogo de vista, apenas. Revoltam-me os "Logo se vê's" e os "Espera pelo Natal" do meu pai, onde suspendo a minha vida em função daquilo que nunca vem. Revolta-me fiar na palavra das pessoas que dizem que oferecem isto e aquilo, ficando eu a fazer contas de cabeça naquilo que estou a poupar e no que posso comprar para ele tendo em conta essa mesma poupança, e quando vou a ver, já gastei devido a essa poupança fictícia e depois ainda tenho de gastar naquilo que dizem comprar e não compram. Revolta-me ver a hipocrisia de se acharem pessoas de bem, com dinheiro e tal e coiso, falarem mal de quem não tem dinheiro e depois serem tão agarrados que nem o neto ajudam. Ora... precisa de uma pulseira o miúdo? Faziam melhor figura se poupassem o dinheiro que gastam em roupa e em pulseiras e o aplicassem em algo que realmente faz falta ao miúdo. Porque eu posso comprar roupa ao bebé, mas não posso comprar os "grandes" pois são caros para o meu bolso. Revolta-me que falem dos pais do R. por serem assim ou assado quando estes com o pouco que têm, conseguem ajudar-nos mais do que eles, que se dizem cheios de papel e "Oh p'ra mim que tenho um BMW dos novos". Irrita-me, revolta-me.
Eu borrava a minha cara de merda se tivesse a condição financeira dos meus pais, e fizesse a mesma figura que eles estão a fazer agora, com algum filho ou neto meus. Eu morria de vergonha se o fizesse.

Prendas da parte dos pais do R.:

180eur, a sobrinha do R. (ainda não me habituei a dizer "minha sobrinha", lol...) ofereceu dois bonequinhos, um deles musical com corda.
Ajuda dada na gravidez por causa do Diogo:
Pais do R.: 500eur em dinheiro, 1 babygrow, 1 conjunto de camisola e calça, 1 par de pantufas.
Meus pais: Roupa.

Compreendem agora o que me revolta? O que me envergonha tremendamente? Compreendem a hipocrisia horrorosa que existe nisto tudo?! Como pode esta gente (é família, mas trato-os assim mesmo, de gente e com desdém) falar mal de quem se calhar tem menos escola, de quem "não é fino", de quem é "muito simples", quando nos ajudam tanto e esta gente que se diz "de bem", "estáveis" financeiramente, com casa no algarve e uma bomba estacionada à porta de casa, blá blá blá não ajuda em quase nada?! Que palhaçada.
Natal para mim, vi no ano inteiro, em qual das famílias nos ajudou no que era preciso. A minha madrasta uma vez acusou-me de eu achar que o meu filho era um "Nenuco", quando é ela que compra roupa ao bebé para eu o vestir com aquilo e ela poder pavonear-se dizendo: "O meu neto não é lindão? E a roupinha?! Fui eu que comprei! Eu!"
Estou triste, merda para o Natal que só vejo é gente parva (nem toda a gente como é lógico)...

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