domingo, dezembro 11, 2005

Sentimentos passados (IV)...

Com a chegada do R. juntamente com o meu cunhado e sogra, comecei finalmente a relaxar um pouco. Senti-me feliz com o R. do meu lado, a olhar para o filho com um olhar super babado. Entretanto, o meu cunhado e sogra foram embora e veio o meu pai com a única flor que recebi (não tenho família e amigos que me enchessem o quarto de hospital com visitas, nem a casa depois de ter tido alta, sendo isso bom ou mau, não sei.) pelo nascimento do Diogo. Acho que foi a altura em que fui mais mimada... O R. trouxe-me o telemóvel (que bom ter horas e poder falar com alguém), umas revistas e umas bolachas e fruta para comer. Levou-me uma garrafa de água e um walkman. Quase não li, não ouvi música nem comi a fruta que me levaram, mas contou a intenção. O meu pai teve de sair às 16h e fiquei as 4 horas seguintes com o R., no quarto, completamente sós. Adorei essa visita... A enfermeira veio para nos ensinar a dar o banho ao Diogo (fartou-se de chorar, muito besta sem dar qualquer tipo de mimo ao bebé) e saíu apressadamente tal como entrou. Fiquei mais descansada depois de vestir o bebé e de o acalmar. Sempre me disseram e também li em revistas, que no tempo de internamento, as enfermeiras são as nossas melhores amigas, que nos esclarecem em qualquer dúvida que tenhamos. Acredito que possa ser assim em muitos locais, mas não ali.
Entretanto, uma auxiliar entregou-me novo tabuleiro com refeição. Comi a sopa, o segundo prato e deixei o resto. O R. tinha de sair por a visita estar a chegar ao fim e lá ficaria eu sózinha de novo, entregue às minhas dúvidas. Felizmente, nessa noite a Raquel entrou no meu quarto e na manhã seguinte entrou a Sandra. Se posso falar em ajuda para esclarecimento de dúvidas, posso agradecer a elas (ambas mães de 2ª viagem) e à Sara, uma amiga pessoal que me respondeu prontamente a todas as mensagens que lhe mandei com dúvidas. No segundo dia, o Diogo andou muito choroso, muito rabugento. Sabia que se tratavam de cólicas (era um choro sofrido, não era de fome), mas não sabia o que fazer para melhorar o estado dele... A Raquel disse-me para chamar a enfermeira e assim o fiz, expliquei o que se passava e ela levou o meu bebé dizendo apenas que "já o trazia". Fui tomar um duche de coração nas mãos, o R. ficou junto à minha cama à espera da enfermeira que depois de o deixar lá, foi ao WC dizer-me que era possível que o bebé fizesse mais cocó novamente e que já estava tudo bem. Menos mal... Chegou a altura de dar o primeiro banho ao Diogo (ou melhor, o meu primeiro banho ao Diogo... percebem?). O R. descartou-se de imediato e eu, receosa, resolvi esperar pela enfermeira que ia explicar à Sandra e à Raquel como fazê-lo, para eu fazer igual. Lá me safei, mas nem a dar banho ao meu filho, sentia confiança. Estava insegura em relação a tudo e morria de pavor de ter de chamar uma enfermeira que me fragilizasse ainda mais.
Após as visitas saírem, jantámos as três na conversa e resolvi perguntar às duas como dar de mamar, quando dar de mamar, por quanto tempo, etc... E tanto a Sandra como a Raquel diziam o mesmo; arranjar a melhor posição de costas direitas e que o bebé mame sem esforço, dar de mamar sempre que ele chorasse, que cada bebé mamava X tempo, "depende" - diziam. E acho que nunca o factor «comparação» foi tão prejudicial para mim... Tanto a Íris, filha da Raquel, como o João Pedro, filho da Sandra, mamavam cerca de meia hora em cada mama e o meu Diogo, se ficasse acordado a mamar durante 5-10 minutos, já estaria eu a fazer uma festa... Preocupava-me o facto de ele ter nascido com pouco peso e não mamar quase nada, receava que ele não se estivesse a alimentar bem, ou que o meu leite (colostro na altura) não prestasse. A Sandra também estranhou ele mamar tão pouco tempo e aconselhou-me a chamar uma enfermeira. Fiquei apreensiva, a minha opinião acerca de enfermeiras daquele hospital não era a melhor e a experiência com as mesmas ainda acentuava mais essa opinião. Mas chamei... e arrependi-me. Chamei-a por volta da 1h e após cinco minutos, lá vem ela e diz: - "Diga lá, o que é que quer a esta hora?!" - já arrependida e desiludida por ter tocado naquela campaínha, expliquei-lhe que o meu filho mamava muito pouco tempo, que comparando com os filhos das mamãs do meu quarto, ele pouco ou nada mamava e que estava preocupada com isso. E em vez de me explicar como dar de mamar, ou sei lá... qualquer coisa, responde-me simplesmente: "Então o bebé está a dormir! Quer pô-lo a comer para quê?! Quando ele acordar logo mama, primeiro numa, depois na outra! Vá, descanse mas é!" - e saíu. Fiquei estupefacta.
Na Quarta-feira, já eu comentava com elas de manhã, que se não tivesse alta nesse mesmo dia, que fugia dali. Felizmente, o médico que viu o Diogo deu-lhe alta, a enfermeira e médica que me viram ambas disseram que a cicatrização da episiotomia estava a dar-se muito bem e que não estava muito inchada pelo que possívelmente teria alta nesse mesmo dia. Mandei mensagem ao R. de imediato, estava ansiosa por sair dali, queria ir para casa, conhecer o meu filho à minha medida, à minha maneira. E lá recebi a alta. Nunca me senti tão feliz depois de ver o meu filho nascer, como naquele dia. Ia finalmente para minha casa, com os dois homens da minha vida, para esquecer tudo o que vivi naquele hospital. Nem o R. soube o que senti nesses dias. Talvez o saiba agora, ao ler os meus relatos como vocês. Não quis, nem nunca vou falar acerca do assunto. Não gosto de falar do que me aflige, apenas escrevo o que me vai na mente para depois esquecer. E como prometido, depois de relatado o parto e internamento, vou arquivar este assunto definitivamente.


Amanhã o Diogo faz 3 meses, e faz um ano que ele faz parte da minha, das nossas (minha e do R. principalmente) vidas, todos os dias. É este bebé que me sorri todas as manhãs que ficará na minha memória, essa menina que por vezes nos trai e deixa que caiam no esquecimento, momentos que gostaríamos de recordar para sempre. E talvez por a memória ser demasiado traiçoeira, que a quero ocupar com tudo de bom, o mau que caia no seu esquecimento.
Obrigada a todas as que me lêem. Às que ainda não são mamãs, desejo do fundo do meu coração que jamais passem pelo que passei. Beijos e abraços!

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