Sentimentos passados (IV)...

Entretanto, uma auxiliar entregou-me novo tabuleiro com refeição. Comi a sopa, o segundo prato e deixei o resto. O R. tinha de sair por a visita estar a chegar ao fim e lá ficaria eu sózinha de novo, entregue às minhas dúvidas. Felizmente, nessa noite a Raquel entrou no meu quarto e na manhã seguinte entrou a Sandra. Se posso falar em ajuda para esclarecimento de dúvidas, posso agradecer a elas (ambas mães de 2ª viagem) e à Sara, uma amiga pessoal que me respondeu prontamente a todas as mensagens que lhe mandei com dúvidas. No segundo dia, o Diogo andou muito choroso, muito rabugento. Sabia que se tratavam de cólicas (era um choro sofrido, não era de fome), mas não sabia o que fazer para melhorar o estado dele... A Raquel disse-me para chamar a enfermeira e assim o fiz, expliquei o que se passava e ela levou o meu bebé dizendo apenas que "já o trazia". Fui tomar um duche de coração nas mãos, o R. ficou junto à minha cama à espera da enfermeira que depois de o deixar lá, foi ao WC dizer-me que era possível que o bebé fizesse mais cocó novamente e que já estava tudo bem. Menos mal... Chegou a altura de dar o primeiro banho ao Diogo (ou melhor, o meu primeiro banho ao Diogo... percebem?). O R. descartou-se de imediato e eu, receosa, resolvi esperar pela enfermeira que ia explicar à Sandra e à Raquel como fazê-lo, para eu fazer igual. Lá me safei, mas nem a dar banho ao meu filho, sentia confiança. Estava insegura em relação a tudo e morria de pavor de ter de chamar uma enfermeira que me fragilizasse ainda mais.
Após as visitas saírem, jantámos as três na conversa e resolvi perguntar às duas como dar de mamar, quando dar de mamar, por quanto tempo, etc... E tanto a Sandra como a Raquel diziam o mesmo; arranjar a melhor posição de costas direitas e que o bebé mame sem esforço, dar de mamar sempre que ele chorasse, que cada bebé mamava X tempo, "depende" - diziam. E acho que nunca o factor «comparação» foi tão prejudicial para mim... Tanto a Íris, filha da Raquel, como o João Pedro, filho da Sandra, mamavam cerca de meia hora em cada mama e o meu Diogo, se ficasse acordado a mamar durante 5-10 minutos, já estaria eu a fazer uma festa... Preocupava-me o facto de ele ter nascido com pouco peso e não mamar quase nada, receava que ele não se estivesse a alimentar bem, ou que o meu leite (colostro na altura) não prestasse. A Sandra também estranhou ele mamar tão pouco tempo e aconselhou-me a chamar uma enfermeira. Fiquei apreensiva, a minha opinião acerca de enfermeiras daquele hospital não era a melhor e a experiência com as mesmas ainda acentuava mais essa opinião. Mas chamei... e arrependi-me. Chamei-a por volta da 1h e após cinco minutos, lá vem ela e diz: - "Diga lá, o que é que quer a esta hora?!" - já arrependida e desiludida por ter tocado naquela campaínha, expliquei-lhe que o meu filho mamava muito pouco tempo, que comparando com os filhos das mamãs do meu quarto, ele pouco ou nada mamava e que estava preocupada com isso. E em vez de me explicar como dar de mamar, ou sei lá... qualquer coisa, responde-me simplesmente: "Então o bebé está a dormir! Quer pô-lo a comer para quê?! Quando ele acordar logo mama, primeiro numa, depois na outra! Vá, descanse mas é!" - e saíu. Fiquei estupefacta.
Na Quarta-feira, já eu comentava com elas de manhã, que se não tivesse alta nesse mesmo dia, que fugia dali. Felizmente, o médico que viu o Diogo deu-lhe alta, a enfermeira e médica que me viram ambas disseram que a cicatrização da episiotomia estava a dar-se muito bem e que não estava muito inchada pelo que possívelmente teria alta nesse mesmo dia. Mandei mensagem ao R. de imediato, estava ansiosa por sair dali, queria ir para casa, conhecer o meu filho à minha medida, à minha maneira. E lá recebi a alta. Nunca me senti tão feliz depois de ver o meu filho nascer, como naquele dia. Ia finalmente para minha casa, com os dois homens da minha vida, para esquecer tudo o que vivi naquele hospital. Nem o R. soube o que senti nesses dias. Talvez o saiba agora, ao ler os meus relatos como vocês. Não quis, nem nunca vou falar acerca do assunto. Não gosto de falar do que me aflige, apenas escrevo o que me vai na mente para depois esquecer. E como prometido, depois de relatado o parto e internamento, vou arquivar este assunto definitivamente.
Amanhã o Diogo faz 3 meses, e faz um ano que ele faz parte da minha, das nossas (minha e do R. principalmente) vidas, todos os dias. É este bebé que me sorri todas as manhãs que ficará na minha memória, essa menina que por vezes nos trai e deixa que caiam no esquecimento, momentos que gostaríamos de recordar para sempre. E talvez por a memória ser demasiado traiçoeira, que a quero ocupar com tudo de bom, o mau que caia no seu esquecimento.
Obrigada a todas as que me lêem. Às que ainda não são mamãs, desejo do fundo do meu coração que jamais passem pelo que passei. Beijos e abraços!
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