terça-feira, dezembro 06, 2005

Sentimentos passados...

Há tempos atrás, escrevi (descrevi) acerca do meu trabalho de parto no blog da minha gravidez, o Vem a Caminho. Mas não escrevi acerca do que senti, no turbilhão de sentimentos que me assolaram naquelas horas que antecederam o nascimento do meu filho. Fui muito "fria" e apenas descrevi aquilo que aconteceu. A que horas me romperam as águas, a que horas cheguei ao hospital, quando vomitei, quando pensei que não ia aguentar mais, por aí fora. Não falei do que senti aqui, na minha alma. Não falei de sentimentos. E posso afirmar com convicção que nunca me senti tão fragilizada psicologicamente como nessa altura e nos dias que passei no hospital.
Qualquer mãe de primeira viagem é inexperiente. Por mais que leia testemunhos de outras mães, revistas da especialidade, artigos e outras estórias relacionadas com o assunto, a verdade é que nada tira a insegurança de uma mãe nos primeiros dias de vida do seu filho, principalmente quando algo se passa de errado. E eu, sem excepção, fui uma delas. Uma semana antes do nascimento do meu filho, tive uma amostra do que possivelmente iria passar naquele bloco de partos e infelizmente estava certa. Uma semana antes, no dia 3 de Setembro, dei entrada no hospital por volta das 23h30 uma vez que não senti o Diogo mais que 5 vezes em 12hrs. Ora, vendo no Boletim de Grávida, é bem explícito que em caso de não se sentir o bebé pelo menos 10 vezes no espaço de 12hrs, que se deve contactar o médico ou ir ao hospital de modo a verificar se está tudo bem. E assim o fiz, com o coração nas mãos, toquei à campainha do bloco de partos do Hospital do Barreiro e atendeu-me uma enfermeira que me perguntou ao que ia. Expliquei a situação e qual não é o meu espanto quando ela solta uma gargalhada sonora seguido de um comentário infeliz - "O quê? Você só sentiu o bebé 5 vezes durante o dia? E acha isso motivo para cá vir? Sinceramente...!" - Fiquei estupefacta a olhar para ela, mas mentalizei-me que jamais me iria sentir mal por lhe estar a dar trabalho àquela hora e por estar preocupada com a saúde do meu filho. Entretanto, veio outra enfermeira, já informada pela primeira, muito amuada por ter de vir com o aparelho para escutar o coração do meu filho... "Oh! Olhe! Já senti um pontapé! E diz você que não se mexe? Ai palavra de honra que ao mínimo espirro elas correm para o hospital! E veja a pulsação! Está 140 por minuto, normalíssima!" E dito isto (eu cada vez mais estupefacta) sai a correr atrás do médico a fazer "queixinhas": "Olhe Dr., sinceramente nem sei porque esta grávida cá veio. Chegou a queixar-se que o bebé não mexia e só na minha presença já deu dois pontapés, dois! E o batimento cardíaco está normal!!" - E eu ao ouvir isto só me sentia triste, triste por ser tão maltratada por me preocupar com o meu filho. Apreensiva de como seria tratada quando chegasse a altura do meu filho nascer...
Entretanto, o médico chamou-me. A primeira enfermeira enfiou um rebuçado na minha boca (literalmente (?!)) e ligou-me ao aparelho de CTG. Fiz a minha tarefa, carreguei no botão quantas vezes o Diogo mexeu, por um lado triste do que estava a viver, mas por outro feliz por sentir o meu filho novamente. Após meia hora, o médico fez-me uma ecografia. Mostrou-me cada milímetro do meu filho e a brincar disse-me que a menina (o quê?! socorro!) estava em excelente forma. Mas ao ver a minha cara em estado de choque, solta uma gargalhada e diz: "Não esteja preocupada Mãe. O seu menino está óptimo!" - E indicou-me ainda que se voltasse a não sentir o bebé, nem que fosse no dia seguinte, para lá ir de novo. Que estavam lá para isso. E saí feliz, descansada, mas preocupada com o facto de poder vir a apanhar novamente aquelas arrogantes no dia do nascimento do meu filho. E não me enganei, uma delas estava lá.


Amanhã conto o resto. Boa noite a todas e obrigada pelo apoio. O intuito de estar a escrever acerca deste assunto, é uma tentativa de saber quem de vós passou pelo mesmo, o que sentiu, como reagiu. Só isso...

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