terça-feira, outubro 03, 2006

Maternidade

Há muito que queria falar aqui acerca da maternidade. Não da maternidade que tantos blogs (e/ou se preferirem, baby blogs) aqui retractam; o amor incondicional, o dia-a-dia delicioso com os nossos mais-que-tudo, o desespero quando uma doença atinge os pequenitos, o choro da primeira ida para o infantário (tanto da mãe como do filho), as guerras para dormir, para comer, etc
Queria falar acerca daquela maternidade escondida. Que existe em cada cantinho deste planeta, mas que queremos esconder. A falsa mãe.
É assim que chamo áquela que me colocou no mundo, uma falsa mãe. Pensei muito acerca do que sentia ao certo antes de poder escrever o que quer que fosse aqui, mas achei importante fazê-lo, para que o meu filho um dia consiga ver e entender, que por vezes as decisões das mães, muitas vezes no seu ver erradas, até são as mais correctas.

Não vejo a minha mãe (digo estar com ela, falar com ela) aí por volta do ano 99/2000. Os meus pais separaram-se tinha eu 2 anos. Depois de uma luta longa em tribunal, eu e o meu irmão ficamos entregues ao meu pai no ano de 1986. Os motivos pelos quais a separação se deu ou o porquê de ficarmos com o meu pai não vem ao caso. É realmente invulgar, ainda mais na década de 80, mas felizmente (!) assim aconteceu.
A partir daí, deparei-me com a chamada falsa mãe. A mãe que respondeu ao meu pai (quando lhe pediu para se lembrar que apesar de tudo tinha dois filhos) que ainda não tinha filhos, que o primeiro ainda estava para vir, a mãe que apenas me procurou uma vez, estava eu a finalizar o 9ºano e apenas porque fui internada de urgência. A mãe que depois não me procurou mais e que tive de ser eu a ir vê-la. Descobri que além de um irmão mais novo, tinha também uma irmã (e o que eu sonhava em criança em ter uma irmã...!).

Comecei a visitá-la com mais regularidade. Sabia que isso magoava o meu pai profundamente, mas a minha curiosidade era mais que muita. Queria conhecer a mulher com quem o meu pai havera vivido e que diziam ser minha mãe. Queria saber como ela era, sem ser fisicamente. Queria conhecer os seus outros filhos, mais a minha irmã, devo confessar.

O que encontrei, foi uma mulher que se mostrava muito feliz por nos ver (a mim e ao meu irmão), que falava imenso, mas que no fundo eu sabia ser uma pessoa má. Vazia de sentimentos verdadeiros de mãe, curiosamente excepto pela minha irmã. Ouvi histórias daqueles dois mais pequenos, onde falava muitas vezes com desdém do Miguel (meu meio-irmão) e com um orgulho exacerbado da Lisandra (minha meia-irmã). Contava com um desdém e orgulho simultâneos que dava tareões (?!) no Miguel por ele ser mau aluno na escola e se estar sempre a baldar. Contava com um brilho no olhar as proezas da sua filha no atletismo, que tinha chumbado um ano escolar por se ter dedicado apenas à modalidade desportiva, mas que não fazia mal nenhum.

E eu anuia, sorria, continuava à escuta. Lembro-me dela ter referido que com o nascimento da Lisandra, o Miguel fora afastado deles durante uns bons anos por serem pobres e não terem condições na altura para criar dois filhos. Apenas depois o Miguel voltou a casa, talvez perto da idade escolar. E isto fez-me uma certa confusão e lembrou-me as palavras que esta falsa mãe havera dito ao meu pai acerca dos seus dois primeiros filhos. Faz-me muita confusão como alguém é capaz de abdicar de um filho desta maneira, quanto mais de três. Creio que foi depois destas conversas com a minha falsa mãe, que perdi o interesse e deixei de a visitar. Encontrei-a meses depois quando estava a ir a um hipermercado. Trocámos nº de telemóvel e ficámo-nos por aí. Até hoje.

Isto foi como referi, por volta de 99/2000. Desde essa altura que tenho o mesmo nº de telefone. Nessa altura roubaram-me o telemóvel e todos os números que eu não tinha na minha memória foram esquecidos, o dela foi um deles. No entanto, comecei a receber recadinhos da falsa mãe, dizendo que eu era uma filha ingrata, que há muito que não a visitava, que já não queria saber dos meus irmãos, que nem uma chamada lhe fazia. Para mim, foi o ponto final neste história. Não gosto de pessoas que se recostam num canto à espera que o mundo gire em volta delas. O meu nº ainda é o mesmo e há 6/7 anos que o meu telefone não toca por uma chamada dela.

Sei que ela sabe que sou mãe. Aliás, ela viu-me grávida. Estive uma vez no supermercado, na caixa e ela era a cliente seguinte na mesma. Não lhe falei, não me falou. E ainda bem. Creio que se um dia ela me abordar, apenas lhe digo: "Peço desculpa, mas deve estar a fazer confusão com outra pessoa qualquer. Não a conheço." - Vejo mais vezes o meu padrasto. Trabalha como segurança no Centro de Emprego ao qual me dirijo, mas também não lhe falo. Mas sei que ele me reconhece embora não me diga. Acho melhor assim.

Tudo isto para retirar mais um sapo da minha mente enleada. Tudo isto para que o meu filho um dia veja o que é uma falsa mãe, uma má mãe. Tudo isto para que ele saiba que é o que tenho de mais precioso na minha vida, que é por ele que respiro e aguento por vezes tantas coisas más. Que vivo e viverei sempre por ele e para ele. Para que tenha conciência que, mesmo quando o castigar ou lhe der um açoite, não quer dizer que não goste dele ou que lhe queira mal.Tudo isto para dizer ao meu filho que o amo cada vez mais a cada segundo que passa e que jamais terá uma mãe como esta falsa avó.

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